Regina Nacca
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Regina Nacca
Como apareceu a idéia de escrever o livro? Ele é mais voltado para maquetes do que para miniaturas (dollhouse), qual a motivação desse direcionamento?
Quando eu comecei a trabalhar com maquetes, eu já comecei trabalhando com maquete artesanal. Não são aquelas maquetes grandes de empreendimentos imobiliários, pois aquelas usam materiais difíceis de encontrar e trabalhar, como MDF, acrílico... É preciso ter ferramentas caríssimas. Então eu comecei trabalhando com maquete artesanal e, pouco depois, dando treinamentos. E aí os meus alunos me consultavam, pedindo indicação de literatura. Quando eu comecei, eu já não tinha encontrado muita coisa. Quando eu fui procurar para eles, nada tinha mudado. E percebi que havia essa carência de literatura voltada para o iniciante de maquete, em português, e que falasse sobre materiais e ferramentas nacionais, que a pessoa pudesse fazer na mesa da cozinha da casa dela. E que também fosse uma base para quem está trabalhando com maquete industrial. Porque falo do básico, do projeto, da planificação. E aí eu comecei a transportar os exercícios de aula para o livro. Comecei a criar os “passo-a-passo”, comecei a pesquisar materiais, fazer teste com tintas, vernizes, com tipos de cola, descobrindo a fundo para quê servia cada uma. Tanto é que no livro traz as tabelas de secagem, etc. Isso tudo foi pesquisado. Foi necessário para eu poder indicar com segurança.
Foi difícil conseguir publicar o livro? Como é essa "odisséia" de se publicar um livro no Brasil?
O problema é conquistar credibilidade. Para começar, meu livro é inédito. Tem alguns de maquetes arquitetônicas, de alto padrão. Artesanal, de maquete e miniatura, não tem. Então no início, nenhuma editora acreditou. Fui eu quem bancou os primeiros exemplares, eu paguei a diagramação, eu fotografei, eu dei tratamento nas imagens, contratei a editora só para fazer a diagramação e a impressão, porque até o registro de direitos autorais eu já tinha feito. Comecei com tiragem digital, que é a cada 10 exemplares, e é o dobro do preço, mas como era uma tiragem baixa... E aí eu comecei a vender: 10, 20, 30, 40, 50... E aí a editora percebeu que havia uma demanda para o livro e eles bancaram os primeiros 1.000. Outra coisa, eu nunca fiquei esperando alguém fazer por mim. Eu fiz o site, eu divulgava, eu ia às feiras, ia às faculdades, no Orkut. Divulguei, vendi, e o resultado apareceu. E aí a editora acreditou. É difícil uma editora bancar logo de cara, porque para ela é um risco muito grande.
E quem tem sido o principal público do livro?
Quem mais procura o livro são estudantes de arquitetura e decoração, e hobistas. Seja para maquetes ou para miniaturas. Quando eu falo miniatura é a maquete do objeto reduzido. Eu sei que no mercado se conceituou chamar de miniatura as miniaturas 1:12. Mas conceitualmente miniatura é tudo aquilo que é reduzido em escala. Toda maquete é uma miniatura, e nem toda miniatura é uma maquete.
Qual era a reação aqui na Bienal do público quando você demonstrava como fazer as minis?
Ah, é sempre interessante! A miniatura é uma coisa que atrai as pessoas. Teve muito momento de descoberta. A pessoa vê e diz: "Nossa, que lindo!" Por isso eu me propus a vir aqui.
E como você descobriu o mundo das miniaturas?
Quando criança eu já gostava, já tinha aquela coisa da brincadeira, de montar a casa da boneca. Hoje em dia os brinquedos já vêm prontos. Na minha época não, você meio que era "forçado" a fazer seus próprios brinquedos. Então se você vê uma criança que tem essa tendência de “pôr a mão na massa”, pode incentivar por que alguma coisa do artesanato vai aparecer ali.
Profissionalmente, eu sempre trabalhei com desenho para decoração. Comecei a trabalhar com perspectivas e móveis. Aí começavam a me perguntar se eu também trabalhava com maquetes, alguém aparecia com uma para restaurar, coisas assim. E eu já adorava maquetes! Sempre gostei de miniaturas. Então comecei a ir mais fundo. Fui fazer cursos (marcenaria, modelagem em gesso, pinturas especiais, etc), comecei a prestar serviços, depois comecei a dar treinamentos, e assim foi indo. Então foi assim: do desenho, para as maquetes, para as miniaturas.
E você curte as miniaturas de dollhouse (1:12)?
Eu curto, mas eu gosto mais de fazer. Algumas coisas eu confesso que não gosto muito de fazer. Por exemplo, essa parte de biscuit, que eu vejo nos trabalhos da Ivani, da Betinha, o que elas fazem - é fantástico! Eu quero ter a oportunidade de comprar para completar a minha casa de boneca. Por que isso eu não gosto de fazer: a parte de comidinhas.
E qual é o material / técnica que você mais gosta de trabalhar?
Eu acho que é madeira balsa.
É mesmo? Tanta gente reclama que é difícil de dar um bom acabamento a ela...
Não, é que tem que saber usar. Mas eu gosto da madeira balsa. Se for para fazer uma parede de maquete, ela já não é boa...
Mas para miniaturas, eu gosto da madeira balsa. Dá para fazer desde mobiliário até algumas coisas que não são de madeira, é só disfarçar a textura que dá certo.
Qual é sua escala favorita?
É a 1:10 e a 1:12. Às vezes, fazer algum detalhe na 1:12 fica muito difícil, e se subir na escala, você consegue. Ultimamente eu estou gostando mais de fazer miniaturas, ambientes, do que as maquetes arquitetônicas. Estou me divertindo mais com isso.
O público de colecionadores ou hobistas de dollhouses ainda é muito pequeno. Porque ainda não cresceu no Brasil como é lá fora, como foi para o Scrapbook, por exemplo?
Infelizmente, o poder aquisitivo na América Latina não é o mesmo de lá de fora. E os valores são diferentes também. Eu acho que não temos a cultura do colecionismo. Acho que vai crescer, mas vai levar muito tempo. Não podemos comparar a tradição de arte européia com a nossa. O Brasil é um país muito jovem. E é um país que está emergindo. Acredito que com a melhora do poder aquisitivo, acesso à cultura, com a internet, o interesse tende a se multiplicar, mas está um pouco cedo, por que é um hobby caro. Talvez o sucesso do scrapbooking, que também é um hobby caro, seja por ele é mais ligado ao artesanato, é a coisa do fazer. E a dollhouse nem sempre. Tem muito do dollhouse que é só coleção. E o artesanato no Brasil está explodindo.
Qual sua perspectiva do futuro do mercado de miniaturas no Brasil?
Eu acho que a mentalidade do latino americano, do brasileiro, é que de uma certa tendência a pagar pelo concreto, pelo produto, mas uma dificuldade para pagar pelo conceito, pela idéia. Então quando tivermos mais kits do tipo "monte você mesmo", vai haver maior divulgação. Às vezes a pessoa não vai querer pagar, digamos, 50 reais numa miniatura. Mas paga 20 num kit para ela mesma montar.
Nem que seja para descobrir que não é tão simples assim e valorizar mais o trabalho perfeito dos artistas?
Isso, nem que seja para ela "quebrar a cara", para não ficar tão bonito quanto o do outro... Mas sempre teremos aquela cultura: "ah, mas isso eu posso fazer". O poder aquisitivo pesa. O poder aquisitivo está subindo, mas a oferta de bens de consumo é maior ainda, tem uma gama muito grande de produtos para se comprar. Esse foi um dos fatores que me levou a escrever o livro. Eu sei que as pessoas têm um desejo de fazer. E tendem a pensar assim: "Para quê eu vou pagar caro se eu posso tentar fazer eu mesmo?". A gente sabe que não é simples assim. Quem faz tem um know-how de anos, tem técnica. Mas é difícil convencer o consumidor. Isso tende a mudar, mas acho que vai demorar. Tem que passar antes pelo processo do "faça você mesmo".
Quais são seus planos para o futuro?
Quanto ao futuro... bem, eu espero que os profissionais de miniaturas sejam mais reconhecidos, que o público valorize cada vez mais essa arte e que as pessoas descubram no miniaturismo algo apaixonante.
Eu espero conseguir viabilizar alguns projetos para levar ao grande público um pouco desse universo de maquetes e miniaturas.